Desde o dia 24 de novembro estou acompanhando de perto a tragédia em Santa Catarina. Estive no local dos deslizamentos de terra, das inundações, das casas que desabaram, principalmente em Ilhota e Itajaí, os municípios que mais sofreram com a enchente. Chorei várias vezes ao entrevistar pessoas que perderam tudo - parentes, bens, a dignidade. Gente que morava em casa de alvenaria construída ao longo de anos de trabalho hoje divide espaço no chão de um ginásio tomado como abrigo.
A situaçao de mais de 3 mil famílias de Santa Catarina é deplorável, tanto quanto a atitude de muitos que se aproveitam da infelicidade dos outros. Em itajaí pudemos ver comerciantes vendendo botijões de gás que custam no máximo 35 reais, a 120 reais. Numa outra situação, o dono de uma casa numa região atingida, mas que não foi inundada porque ficava no alto, vendia garrafas de água abastecidas pelo seu poço artesiano a 15 reais cada. Ainda recebi denuncias de voluntários que ao invés de ajudar a separar as doações, se preocupavam apenas em separar para eles próprios o que havia de melhor no meio das roupas velhas. Também soubemos de caminhões carregados de alimentos que fizeram um pitstop na casa de amigos para descarregar parte dos mantimentos, antes de chegar ao centro de doações.
Por causa disso podemos perceber que a pior desgraça não é aquela que desabrigou milhares de famílias, mas sim a que explora estas famílias que já estão sem perspectiva. É degradante ver o oportunismo dos sem coração que ao invés de doarem o que podem, usam-no para ganhar mais dinheiro. Que pena que a inundação não desgraçou suas vidas também. Espero que a justiça divina o faça.
2 comentários
É triste constatar que existem pessoas que conseguem tirar proveito da desgraça alheia. Ainda bem que temos repórteres como você que denuncia este tipo de atitude ao invés de tampar o Sol com a peneira.
Parabéns pelo seu trabalho!
Sem dúvida, a melhor aquisição da Record!
É sempre bom ver o teu olhar sobre os acontecimentos, quer como repórter talentoso e experiente, quer como ser humano sensível e solidario. Com certeza isso faz a diferença. No meio da tristeza, o simples desejo de que a "justiça divina se faça", pode mudar o rumo da estória.Eu acredito...