segunda-feira, 21 de junho de 2010

O técnico Borba e a mãozinha do Fabiano

Passei o fim de semana em Ribeirão Preto. Tinha uma festa de amigos de infância com pretexto para assistirmos ao jogo contra a Costa do Marfim. Perdi o bolão! Apesar de ter dito no sábado, no Jornal da Record, que apostaria num 2 a 1, marquei no bolão 2x0 e 3x0. Mas não acreditava muito nesses resultados não. Os escolhi porque tinham menos apostas. Sendo assim, chances de dividir a bolada com menos gente. Quando o Brasil fez o terceiro, pulei de alegria e pensei: "Opa, olha o bolão pagando a viagem e a festa". Precipitação minha - os caras vão lá e fazem um golzinho quase no impedimento. Bom, fui repetir o prato de feijoada.

To chegando em casa de viagem hoje cedo, lá vem o Borba, meu zelador. Como eu já esperava que ele viria! Debruçado na janela do meu carro, já na garagem, ele filosofa:

- Ô Doutô, danado de bão o joguinho de ontem, né?
- É Borba, pelo menos, bem melhor que contra a Coréia.
- Mas e o segundo gol do Luis Fabiano? Aquele ali rolou uma mãozinha na bola, né não?
- É... parece que sim. Mão, braço, teve direito a tudo.
- Mas o juiz viu não viu? O senhor viu ele sorrindo pro Fabiano depois como quem diz "Eu vi, eu vi!"
- Vi sim!
- Mas mesmo assim deu o gol? Que porra é essa?
- Ah, sei lá, Borba. Acho que ele validou o gol e não teve coragem depois pra anular.
- Pois é. Mas o fiadaputa descontou depois né? Com aquela expulsão do Kaká. Deve ter pensado: "bão, dei um gol pra eles agora vou mandá um pro chuveiro mais cedo".
- Olha Borba, acho que um juiz não agiria assim.
- Mas foi doutô, não viu não? O coitadinho nem encostou no cara direito e o bicho caiu qui nem muiézinha com a mão no rosto. Ah, vai ser florzinha assim lá no sul. Expulsô pra compensá a maozinha do Fabiano.

Eu já querendo entrar e oito carros buzinando atrás de mim.

- Olha Borba, o que importa é que nós ganhamos, né?
- É! Menos mal. Mas de verdade, de verdade memo, foi só de dois a um, né doutô? Igual o primeiro jogo. Pra mim o da mãozinha não valeu.

Eu as vezes fico pensando se o Borba não deveria estar em outra função. Quem sabe no lugar do Dunga. Esse nordestino, com certeza, se não conseguisse dar o hexa ao Brasil pelo menos ia dar lição de moral nessa rapaziada.

E ele ainda grita de longe:

- Doutô, e Portugal botô sete na Coréia hoje. Nóis só fizemo dois e tomamo um. Essa portuguesada vai dá trabaio!

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terça-feira, 8 de junho de 2010

Mais uma do Borba

Como eu o apresentei no post passado, Borba é o porteiro do meu prédio. Nordestino carrancudo, mas sábio de dar inveja. To entrando, ele chega e segura a porta do elevador:

- Doutô, o sinhô viu o que o Lula falô hoje? Tá nas internet!
- Sobre o que Borba? Li um monte de coisa a respeito dele hoje.
- Ele falô que nóis, pobre - nóis não, eu, né doutô, porque o sinhô é abonado (coitado, mal sabe o Borba)...
- ... ele falô que em época de eleição nóis é mais chique que banqueiro.
- É Borba, ele disse isso mesmo.

Eu querendo subir, o pessoal gritando pelo elevador e ele ainda segurando a porta:

- Doutô, já sei porque ele disse isso!
- Porque Borba?
- Porque pobre é que nem pardal, tem aos monte! Muito mais que banqueiro. E tendo mais pobre, tem mais voto também né doutô. E como semo nóis que elege, agora semo chique!
- Tem sentido Borba.

"Solta a porra do elevador!!"

- Não esquenta não doutô, é aquela lôca do terceiro andá. Mas, óia que danado esse presidente. Chamando nóis de chique pra nóis votá neles. Eu é que não caio nessa!
- Tá certo Borba.
- Agora doutô, o tiro saiu pela culatra. Os banqueiro não vai querê votá nele.

E não é que esse Borba sempre me surpreende?

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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sabedoria de porteiro

O Borba é um cara vivido. É o porteiro do meu prédio. Um dos poucos que ainda torce pra Portuguesa, mas tem o Arapiraca no coração. Deve ter uns 60 anos, mas pelas histórias que me conta, parece que tem uns 150. É claro que boa parte disso se deve a uma imaginação fértil desenvolvida nos momentos de solidão dentro da guarita. Mas o Borba lê muito! Mais que eu até. De atlas à bula de remédio. E sabe de tudo também. Nada que acontece nesse mundo escapa aos comentários ácidos do Borba que, em sua simplicidade nordestina, tem uma sabedoria de dar inveja. E muitas vezes ele me desconcerta.

- Doutô, não conseguiram tapar aquele buraco que cospe óleo no fundo do mar, né?
- É Borba, não tão conseguindo não.
- Será que não é de propósito?
- Como assim Borba?
- Pensa! Ta vazando muito né?
- É.
- E se perdê tudo aquilo, pode faltá em algum lugar, né?
- De certa forma sim, Borba.
- Se faltá o preço não pode subir? Então pra que tampá aquele buraco tão cedo?

E o Borba, na sua singela sapiência me tirou umas duas horas de sono por ficar pensando nisso. Mas dia após dia o Borba me surpreende. Outro dia ele me chamou na garagem:

- Doutô, o senhor viu que falaram mal do pograma que o senhor faz nos domingo?
- Não vi não, Borba. O que foi?
- Ah, uma dessas muié que critica televisão. Disse que o pograma não tinha nada de espetacular, só o nome. E ainda falô que o quadro do senhor, aquele que bota medo na gente, não assusta nem criança de berço.
- Ah Borba, eu nem ligo pra isso. É gente que não tem assunto.
- Mas sabe o que eu descobri?
- Hã...
- Que ela é muié dum figurão da Grobo.
- Ah tá!
- Ta expricado falá mal, né?
- Tem razão Borba.
- Mas me diz uma coisa.
- Fala.
- Ela trabáia em televisão? Ou já trabaiô?
- Acho que não Borba.
- Então comé qui ela pode criticá televisão se não sabe direito como funciona lá dentro?
- Ah, sei lá Borba, cada um sabe o que faz. Ou pelo menos acha que sabe.
- Tem ôtra: ela falou mal do pograma porque a televisão do marido dela perdeu pro cêis no domingo naquela coisa de audiênça?
- É... pode ser.
- Ô gentinha despeitada, né doutô?

É... o Borba tem muito a ensinar pra muita gente!

Logo logo publico mais histórias e estórias do Borba.

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