terça-feira, 31 de março de 2009

Cortando a própria carne, mas nem tanto

Finalmente uma decisão séria do governo - cortar o IPI de vários produtos para ajudar as empresas em crise. Mas será mesmo que isso resolve? No caso do setor de veículos vai ajudar os fabricantes a venderem mais, afinal o valor dos veículos vão baixar 10% em média. Um carro que custe 26 mil e 900 reais passará a custar 23.900. Bom desconto para quem já estava querendo trocar o carango e um "mel-na-boca" de quem nem pensava nisso. É aí que mora o problema. Assediado por essa redução muitos consumidores podem correr às lojas não porque precisam, mas simplesmente para aproveitar a oportunidade. E vai acontecer o que? Alta procura, além do que as montadoras conseguirão produzir (afinal estão demitindo gente e diminuindo a produção) e olha o ágio surgindo aí de novo. Todo mundo sabe que consumo demasiado gera inflação. To achando que essa medida vai ser uma faca de dois gumes.

Enquanto o governo daqui baixa o IPI pra ajudar as empresas em crise, o dos Estados Unidos encosta montadoras como GM e Chrysler na parede e exige medidas mais viáveis de reestruturação, senão os 21 bilhoes de dólares prometidos a elas não saem. Brasil e Estados Unidos tem políticas diferentes para tratar empresas em dificuldade. Assim como a seriedade que cada presidente usa para impor as regras. O nosso é bem mais flexível, né? Tipo assim: "Ah, se a inflação subir depois a gente muda tudo, corta o crédito, sobe os impostos e freia o consumo. O cidadão é que se foda pra pagar o que comprou agora!" Como dizia Kate Lyra naquela personagem do saudoso Planeta dos Homens: Brasileiro é tão bonzinho!

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segunda-feira, 30 de março de 2009

Eliana Tranchesi - parte 2

Volto a tocar no assunto porque percebi que alguns leitores não entenderam meu ponto de vista, pelo menos os dois que fizeram críticas (e apenas um teve a coragem de expressar). Talvez não tenham lido o artigo com a atenção necessária. No texto anterior eu não fiz e nem pretendo fazer defesa daqueles que cometem crimes - que nem sempre podemos chamar de criminosos. Eliana Tranchesi cometeu crimes? Sim cometeu! Pode ser chamada de criminosa? Na minha opinião não é necessário. Senão, criminosos serão todos os camelôs que vivem de vender bujigangas na rua 25 de março. E também os cidadãos comuns, autônomos, profissionais liberais e até assalariados mais abastados que compram recibos de médicos, dentistas, psicólogos e de onde mais puderem para anexar ao imposto de renda, pra pagar menos. Vamos chamar de criminosos também os donos de restaurantes, bares, postos de combustíveis e lojas que não emitem nota fiscal nas vendas. Seriam criminosos ainda o seu pedreiro, o gesseiro, o encanador e outros prestadores de serviço que levam seu rico e suado dinheiro sem lhe dar nenhum recibo. Estamos falando, nesses casos também, de sonegação. Em que isso difere dos crimes cometidos pela dona da Daslu? Então, 94 anos de cadeia pra todo mundo!

Eliana Tranchesi já está pagando sua pena. E esta não foi imposta pela justiça. Um câncer de pulmão já está lhe cobrando pelos atos ilícitos cometidos. Ela não precisa dormir na cadeia, não precisa ser algemada, nao precisa pegar 94 anos de cadeia. A justiça divina já esta sendo mais eficiente que a dos homens. Suzane Richthofen arquitetou a morte dos pais e pegou 39 anos. Isso me faz entender que posso ficar menos tempo na cadeia por homicídio do que por sonegação.

Não questiono aqui a condeção da empresária. Ela tem de pagar sim pelo crime. Mas a justiça tem de usar penas concretas e não fantasiosas.

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sábado, 28 de março de 2009

Ser bem sucedido nesse país é crime!

Essa semana que passou acompanhei de perto o caso da empresária Eliana Tranchesi, dona na loja mais famosa do país, a Daslu. Muitos aplaudiram o fato de uma "socialite" ter sido colocada atrás das grades (e já nãe foi a primeira vez), mesmo que tenha sido por apenas um dia. Mas será que foi realmente necessário todo o circo armado pelo Ministério Público? Seria justa a condenação a 94 anos de prisão pelos crimes por ela cometidos? Não estou paqui para defender ninguém, mas o fato me causa azia. Não pela prisão em si mas pelos ares de folhetim que a coisa tomou e pela hipocrisia das autoridades. Primeiro pela necessidade da justiça de impor a ela uma pena que, na minha opinião, parece um pouco exagerada. Ela lesou os cofres públicos sonegando impostos mas não matou ninguém. Ela cometeu fraudes fiscais mas não vende cocaína. Ela "formou uma quadrilha", segundo o Ministério Público, mas não anda com fuzis e metralhadoras nas mãos nem assalta bancos. Merece sim ser punida, merece até ir pra cadeia pelos atos ilícitos cometidos mas não merece ser execrada como criminosa. Senão teríamos também de mandar pra prisão milhoes de brasileiros que compram recibos e forjam situações no imposto de renda para não pagar mais impostos.

Vale aqui relembrar duas condenações famosas: Juan Carlos Abadia, traficante, 30 anos de pena; Suzane Richthoffen, assassinsato dos pais, 39 anos. Em que os crimes cometidos por eles são mais suaves que os de Eliana Tranchesi, condenada a tres vezes mais tempo de prisão? Entendo perfeitamente que há uma interpretação da justiça sobre o número de vezes que a ré cometeu o crime, mas somar daqui e multiplicar dali para se chegar a uma sentença dessas me pareceu bastante fantasioso, apesar de não conhecer muito de legislação penal. Acho que justo seria condenar um traficante a 500 anos de prisão por ele ter provocado a morte de dezenas, centenas de pessoas que morreram de overdose. Acho justo colocar alguem atrás das grades por 200 anos por ter assassinado a sangue frio seus próprios pais. Estas pessoas tiraram vidas e vidas não tem preço. Agora é justo quase 100 anos de prisão para quem importou bolsas Victor Hugo alegando que pagou 50 enquanto na verdade elas custaram 500?

Diante dos olhos de muitos, o único crime que Eliana Tranchesi cometeu foi ser bem sucedida, o que nesse país significa que a pessoa ou roubou alguém ou tem esquemas no governo. Não me parece o caso! Que pena deveriam receber então os milhares de camelôs que se espalham pela cidade de São Paulo e, semanalmente, trazem contrabando do Paraguai para ser vendidos sem nenhuma taxa, imposto ou alavará? Será que só porque eles são pobres é aceitável que façam isso? O fato da dona da Daslu ser "A Dona da Daslu" a torna uma criminosa? Na verdade acho que criminosos deveriam ser aqueles que atentam contra a moral do povo brasileiro. Refiro-me aqui a juizes que querem discutir aumentos dos seus gordos salários enquanto o mundo inteiro vive uma crise que culmina em fechamento de empresas e desemprego. E também a deputados bem remunerados envolvidos em escândalos, maracutais, mensalões e roubo discarado do dinheiro público.

Pra finalizar: cocaína só fortalece o tráfico porque muita gente cheira. O ladrão só rouba porque deixaram a porta aberta. Da mesma forma a sonegação de impostos só existe porque o governo nos ferra cada vez mais. Não vamos ser medíocres e dar lições de moral querendo provar que rico também vai pra cadeia. Isso já acontece. Precisamos é por atrás das grandes os verdadeiros responsáveis pela dilapidação do dinheiro público - esses nem perto das cadeias passam!

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quinta-feira, 19 de março de 2009

Uma aula de desrespeito

"Uma professora de educação física de 36 anos foi agredida a socos, mordidas e pontapés dentro da sala de aula da escola estadual Kakunosuke Hasegawa, em Itaquaquecetuba (Grande SP). O autor das agressões é um aluno de 13 anos."

Li a notícia publicada na Folha de São Paulo essa semana com tristeza. A vi justamente num momento em que amigos antigos preparam uma homenagem a uma professora da minha infância e adolescência que está se aposentando. As duas situações me emocionam. Uma negativamente. O caso da agressão à professora de Itaquaquecetuba mostra a que ponto chegou a educação no nosso país - desestruturada e desrespeitada. A própria Record mostrou em série de reportagens recentes o que passam professores, que são ameaçados e agredidos por alunos, e estudantes que sofrem as mesmas barbáries de seus mestres incapacitados. Ser professor hoje virou última alternativa, não mais uma escolha profissional - se não se consegue trabalho, vai-se dar aulas numa escola qualquer, qualquer uma que não exija diploma de mestrado, que pague pouco, que não ofereça condições de ensino nem material adequado. Qualquer uma que ofereça apostilas e livros que mostram que a América do Sul tem dois Paraguais e em que Cingapura esta grafado com "S". Depois querem que o Brasil se desenvolva. O PIB pode aumentar, o déficit cair, a renda per capita crescer... mas enquanto houver essa política do "deixa o povo burro mesmo" nossas gerações futuras jamais vai saber o que é PIB, Déficit e Renda Per Capita. E jamais vai crescer!

Quanto a segunda situação, a da homenagem a minha professora de infância, busco, entre tantas coisas boas vividas naquela época, a que melhor representaria sua participação em minha vida. É um outro mundo, diferente da situação de Itaquaquecetuba. Uma realidade separada apenas por trinta anos - muito pouco em termos de história de um país. Enquanto relembro com saudades os professores que me fizeram chegar onde cheguei hoje, mesmo aqueles considerados mais chatos, vejo alunos agredindo desrespeitosamente aqueles que poderiam levá-los a algum lugar, a ser alguma coisa. Eles nem imaginam que essa agressão pode ser a linha divisória entre o sucesso e o fracasso.

É sabido que nossos professores não são bem preparados para exercer a função, mas não merecem qualquer desrespeito. Quem absorve pra si o desejo de ensinar, mesmo que seja por falta de outra opção deve, no mínimo, receber um crédito pela ousadia de ser professor num país em que a educação não é primordial.

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segunda-feira, 9 de março de 2009

Pra que ser um milionário?

Um jovem que nasceu e viveu boa parte da sua vida entre favelados e marginais, cresceu incentivado a roubar e a enganar os outros, tem a chance de se tornar um homem rico, ou melhor, milionário. Não porque quis ou porque batalhou a vida inteira por isso - a história mostra o contrário. Ele nem quer o dinheiro todo que está a sua disposição. Esse é o contexto do filme vencedor do Oscar Quem quer ser um Milionário, que acabei de assistir. A história é, ao mesmo tempo, emocionante e engraçada. Mostra a vida de dois irmãos paupérrimos que seguem juntos até decidirem tomar rumos diferentes. Um segue pelo caminho do crime - o que já era esperado pelo decorrer dos acontecimentos. O outro, também demonstrado pela sua personalidade, segue o caminho do bem. O final de cada um também é o mesmo já esperado para suas condutas, mas deixo que vocês assistam pra não perder a graça.
O que importa, comove e nos atrai nessa belíssima obra, estrela da premiação mor do cinema, é o que move seu protagonista - nada mais que o AMOR. Isso mesmo, a linha de raciocínio que conduz a história é o maior sentimento que um ser humano pode ter por outro. Apesar do nome do filme sugerir algo muito mais capitalista, a essencia de Quem quer ser um Milionário é puramente romântica. O amor que guia o protagonista é surpreendente, duradouro e determinante para o desfecho. E o que emociona e toca, pelo menos aos seres mais sensíveis, é a determinação de uma criança que desenvolve um amor tão puro que resiste às intempéries da vida, atravessa décadas e não se desfacela nem diante das barreiras quase intransponíveis que os separam. Consolidar esse amor depois de tanto tempo, sem jamais tê-lo colocado em segundo plano, vale muito mais que alguns milhões de rúpias. As pessoas que aprenderam a amar alguém sabem bem do que estou falando. Amor de verdade não tem preço e o "milionário" do filme o é, não porque ganhou algum prêmio em dinheiro mas sim por ter conquistado seu grander amor. Valeu mesmo o Oscar!

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domingo, 1 de março de 2009

O garanhão do Oscar

Essa semana assisti a um dos grandes premiados do Oscar - o filme O curioso caso de Benjamin Button - e tenho de admitir: Brad Pitt é mesmo um garanhão. Po, o cara é o queridinho de Hollywood há algum tempo, já traçou a Juliet Lewis, Gwyneth Paltrow e Jeniffer Aniston. E pra não baixar o nível de beleza ainda tascou a Angelina Jolie com quem tá até hoje. Agora consegue protagonizar um filme que teve 13 indicações e levou tres estatuetas. E surpreendeu por nascer velho e morrer bebê. Aí você imagina: "Putz, ter rugas e o "negócio" não levantar quando ainda se tem apenas oito anos de idade deve ser uma mer...!". Nana nina não! É o Brad Pitt, gente, e o personagem não pode ser assim! Com cara de faixineiro do Zepellin, mais enrugado que maracujá de gaveta e tão manco quanto mesa de buteco em calçada de paralelepípedo, o garanhão dá canceira numa prostituta logo no comecinho. Claro, é o Brad Pitt! Alguns anos depois, com cara de 80 e poucos, traça a sem-sal mas fogosa Tilda Swinton. Claro, é o Brad Pitt! E de quebra, já com 60 mas rostinho de capa da Capricho, manda bala na Kate Blanchet. Afinal é o Brad Pitt! O cara é ou não é cumpridor? Pelo amor de Deus! Merecia o Oscar de melhor performance sexual do cinema. Nem o Michael Douglas que passou por tratamento para compulsão sexual conseguiu essa proeza em seus filmes.
Bom, deixando de lado o desempenho do galã que até com cara de Matusalem arranca suspiros da platéia feminina, o filme é realmente muito ilustrativo pois comprova que a gente começa a vida de fraldas e termina com elas. Não importa a ordem cronológica!

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