Impossível não relatar aqui, novamente, histórias que presenciei na tragédia da enchente em Santa Catarina. Apesar de, desta vez, não ter sido o responsável por mostrar o fato na TV, conversei com pessoas do Morro do Baú, em Ilhota, que me confirmaram a história. É sobre a determinação de um senhor que enfrentou riscos apenas para pegar um carnê. Seo Zé (vamos chamá-lo desta forma), assim como dezenas de famílias do morro, teve de deixar a casa em que morava por causa dos abalos que ela sofreu com os deslizamentos de terra. Uma semana depois do soterramento, ele insistia em voltar à casa para pegar "algo muito importante". Conseguiu convencer um bombeiro a acompanhá-lo. Revirando suas coisas em meio aos escombros, acabou encontrando o que tanto queria. Deixou para trás roupas, eletrodomésticos e outros objetos que lhe seriam essenciais, mas trouxe o carnê de financiamento da moto que tinha comprado. A moto foi levada pela enxurrada de lama e deve estar soterrada sob toneladas de terra. Mas seo Zé não se importa, pra ele vale mais continuar pagando as prestações pra não ficar com o nome sujo.
É uma atitude iluminada, como a do senhor Daniel que encontrou 20 mil reais num casaco doado e devolveu o dinheiro (veja a reportagem aqui). Merece respeito e serve de exemplo àqueles que foram machete, não por atos dignos, mas por oportunismo - alguns que se aproveitaram da fraqueza dos que perderam tudo para ganhar um "dinheirinho a mais". E os voluntários, inclusive soldados do exército, que tiraram proveito da oportunidade de estar diante das doações para levar "umas lembrancinhas pra casa". Lembrancinhas estas que poderiam fazer falta a quem realmente foram destinadas aquelas doações. Pior é que alguns ignorantes e desalmados ainda defenderam a atitude dizendo que "há doações sobrando, que não ia fazer falta". O problema não é ter coisa sobrando... é a atitude de pegar o que não é seu. Pra mim isso se chama roubo! A não ser que o Aurélio tenha mudado o significado dessa palavra.
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