Novamente voltei hoje ao local mais atingido pelos deslizamentos de terra em Santa Catarina – o Morro do Baú, em Ilhota, a 30 quilômetros de Itajaí. Minha missão era mostrar o trabalho de técnicos que estão fazendo a vistoria nas casas atingidas e classificando-as. Ou seja, eles estão dizendo “nesta aqui pode voltar a morar, nesta só se entra pra pegar alguns objetos, nesta outra nem passe por perto”. Em resumo é isso, sem querer eles acabaram se tornando mensageiros da má notícia.
Pelo caminho encontrei gente que recebeu classificação “C” na casa. Significa que o imóvel está condenado, mesmo estando ali, em pé, sem ter sido atingido diretamente pelas avalanches de lama. Realmente é impossível habitar ali – a casa está intacta mas o jardim é um mar de escombros, a rua idem, o bairro a mesma coisa. Não valeria a pena nem destruir e reconstruir a casa. Oito anos de suor do seu Iremar soterrados. “Um sonho enterrado”, como ele mesmo disse. Me tocou a esperança de Iremar de, em meio a dor, conseguir reconstruir a casa em outro lugar... só não sabe onde.
Já encerrando a reportagem, me deparo com outra cena dolorosa. Um pai que acabara de enterrar sua filha de quatro anos, a única da família morta que faltava ser encontrada. Ele perdeu o filho de 8 anos, a filha de 4, a sogra, a cunhada e dois sobrinhos. A mulher dele, ainda internada, perdeu o bebê de uma gravidez de cinco meses. Pensei comigo... “Não volto mais aqui, não quero mais explorar a dor desse povo. Chega de incomodá-los com perguntas do tipo “Como vai ser a vida daqui pra frente?”. Só percebo o quão idiota é a pergunta depois de refletir, dentro do carro, sobre as conseqüências da tragédia.
Santa Catarina tenta se reconstruir... difícil vai ser reconstruir a alma despedaçada daqueles que preferiam hoje ter estado, também, embaixo dos escombros.
Gilmar e a sombra do golpe e do terror
Há 10 horas
1 comentário
E no meio de toda essa dor, só resta a luz de Deus, que com certeza há de brilhar e iluminar os caminhos dessa gente hj tão sofrida.E a nós, espectadores dessa dor só resta agradecer em oração todos os dias,por poder voltar pra casa.Parabéns Ogg, continue com esse olhar de amor sobre acontecimentos como esse.De matérias como as suas, nasce a verdadeira solidariedade.