sábado, 9 de outubro de 2010

Equador - Diário de Viagem, parte 2

Como eu disse na primeira parte do diário de viagem ao Equador, encerramos o primeiro dia num sufoco danado. Foi muita tensão e correria para colocarmos no ar as primeiras informações do dia seguinte ao da rebelião. A internet da lan-house do aeroporto era mais lenta que uma lesma sem pressa de chegar e conseguimos gerar imagens, passagen e entrevista poucos minutos antes da matéria ir ao ar. Mas deu tudo certo.

Ainda exaustos por essa tensão e pela expectativa da viagem, deixamos o Aeroporto Mariscal Sucre, em Quito, e pegamos um taxi para o centro da cidade, por volta das oito da noite. Perguntei ao motorista como estava a situação na cidade. Ele me disse que ainda havia muita insegurança em algumas regiões, que o Palácio do Governo estava cercado por soldados do exército e que não seria um bom momento para ir até lá. Enquanto isso em Guayaquil alguns saques ainda eram registrados pela cidade.

Começamos a rodar pela cidade e pude observar vários carros cheios de soldados circulando. Com fuzis em punho como que preparados para a guerra, eles miravam qualquer pessoa ou grupo suspeito e por um momento, fomos alvos enquanto passávamos ao lado do caminhão. Senti pelo menos umas 10 metralhadoras apontando para nosso taxi. Por sorte era apenas uma precaução. Não nos pararam.

Pedi para o taxista nos levar a um lugar de bastante movimento, para mostrar se as pessoas estavam obedecendo a um certo "toque de recolher" estabelecido pela situação. Me surpreendi quando vi um clima mais de festa do que de preocupação. Na "Plaza Foch", região central da cidade, onde existe uma centena de bares e restaurantes - parecida com a nossa Vila Madalena - milhares de pessoas perambulavam pelas ruas como se nada tivesse acontecido naquela quinta-feira anterior. Conversei com algumas pessoas e percebi que elas se sentiam seguras pela presença dos militares nas ruas. Alguns até se misturavam aos baladeiros de plantão.

Naquele momento percebi o que estava acontecendo: a presença do exército nas ruas, ao contrário de outros países, como aqui por exemplo, cuja situação assusta, garantiu à população equatoriana um certo ar de "tudo sob controle". Aquela festa toda me pareceu uma "comemoração" e senti nos dias seguintes a força do apoio popular ao Presidente Corrêa.

Passei pela praça onde ocorreram as primeiras confusões e segui para o hospital onde soldados da polícia militar enfrentaram o exército a tiros. Ali ainda pude ver pelo chão algumas cápsulas de fuzil deflagradas e manchas de sangue dos feridos. Até pude imaginar a correria que só fui ver mesmo, depois, pela televisão estatal local que fez questão de repetir exaustivamente as cenas do "resgate" de Correa. Resgate? Sequestro? Golpe de Estado? O que teria sido mesmo verdade nessa história toda? Assunto para o próximo post. Boa semana a todos.

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Equador - Diário de Viagem, parte 1

Era o final da tarde de uma quinta feira. Eu seguia para o comício do presidente Lula em São Bernardo do Campo quando recebi uma chamada no rádio. "Ogg, ao invés de cobrir as eleições aqui, que tal acompanhar uma confuzaozinha no Equador?" Caraca! Eu que nunca tinha visitado o país agora tinha uma oportunidade de cobrir uma revolução lá! VAMBORA!

Voltei pra emissora, peguei verba de viagem, vouchers de passagens e hotel e fui pra casa arrumar as malas. O vôo partia no dia seguinte, sexta, as oito da manhã. Cacei meu passaporte que estava jogado em alguma gaveta, arrumei as malas e fui pra internet pesquisar sobre a confusão. Aí é que me dei conta do que estava indo fazer.

Naquele dia, polícia militar tinha entrado em confronto com o exército. Tiroteio, bombas, presidente sequestrado no hospital cercado, pessoas feridas, mortos, aeroporto fechado e a iminência de um golpe de estado. Putz, não ia ser fácil, pensei. Confesso que nunca tinha feito uma cobertura de guerra - o máximo que cheguei perto disso foi num confronto entre estudantes e policiais na USP, ano passado (e que já não foi mole) - e isso me deixou um pouco apreensivo. Primeiro porque não sabia que situação iríamos encontrar por lá. Se o aeroporto estava fechado, como iríamos desembarcar? Será que ficaríamos sitiados? Por um momento me imaginei me arrastando pelas ruas junto com meu cinegrafista, Gilson Dias, tentando escapar de bombas e de balas perdidas. Exagero meu? Não! Foram dez mortos e dezenas de feridos, inclusive jornalistas atacados pelos policiais rebelados.

Quase não dormi de noite de tanta excitação. Acordei as cinco, fui pra TV e não havia carro pra nos levar pro aeroporto de Cumbica - é, a redação esqueceu de providenciar. Corre daqui e dali, conseguimos uma viatura do SP Record pra nos levar, já com atraso de quase uma hora. Bom, graças a Deus, chegamos ao check-in e embarcamos ainda com um tempinho de dar uma zapeada pelo free-shopping.

Nosso roteiro incluía uma conexão em Bogotá, na Colômbia. Seriam quase seis horas de vôo até lá num apertado espaço de poltrona (eu não consegui a fila de emergência como sempre peço). Chegamos por volta do meio dia e tive de atrasar o relógio duas horas por causa da diferença de fuso-horário. Uma horinha e meia até o embarque da conexão para Quito, vamos lá zapear outro Duty-Free.

O corpo já exausto do primeiro trecho pedia arrego, afinal não foi um voo tranquilo. Enfrentamos muita turbulência a ponto de enxergar a bandeijinha de comida flutuar na minha frente em determinados momentos. Pra piorar o "sobe-e-desce" da turbulência, uma mulher gritava apavorada "Caerá ... Dios mío! Caerá!". O frango com pimentão não cai bem nessa hora.

Embarcamos em Bogotá para mais um trechinho de uma hora até Quito. Mas antes tratei de ver pela internet qual a situação. Pelo menos o aeroporto já tinha sido reaberto, o que nos tranquilizou um pouco, afinal não sabíamos se iríamos conseguir pousar. Atrasos daqui e dali, mais turbulência no voo, chegamos à capital equatoriana as quatro da tarde, já com o dead-line estourado para gravar uma passagem no aeroporto mesmo, off, sonoras, transcodificar e gerar o material pela internet. Lembrando que aqui já eram seis da tarde e o Jornal da Record entraria dalí menos de duas horas.

Foi um sufoco mas conseguimos tudo a tempo. Geramos o material faltando menos de meia hora pra matéria ir ao ar. Dado o "OK" pela chefia, respiramos aliviados, certo? Que nada! Ainda teríamos de produzir a matéria para o Fala Brasil do dia seguinte. Fomos para a batalha, ver como a cidade estava e o que enfrentaríamos. Mas esse é o assunto para o próximo a parte 2 de "Equador - Diário de Viagem" que vou publicar até sábado. Até lá!

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