terça-feira, 29 de março de 2011

A diferença entre o início e o fim da vida



Sentado no café um shopping em São Paulo, vejo uma cena que me toca e me faz crer ainda mais que nossas vidas começam e terminam da mesma maneira. Pelo menos, devia ser assim. De onde estou observo o vai e vem de pessoas e vejo à minha frente duas situações que, coincidentemente, aconteciam na mesma hora. De um lado uma mãe empurrando um carrinho de bebê. Não deu pra ver direito mas, provavelmente, recém-nascido. Na mesma velocidade, quase que andando paralelamente mas do outro lado do corredor, uma jovem empurrando a cadeira de rodas de uma idosa, bem velhinha, na casa dos seus mais de noventa anos, com certeza.

Aquela cena me fez refletir, de maneira séria, sobre uma piadinha que sempre ouvi. Ela diz o seguinte: nós morremos tal qual como nascemos - carecas, cagões, babando e apenas balbuciando sons. Sempre achei graça da piada mas aquela cena me fez perceber o quanto ela é imbecil e preconceituosa. Na verdade, enxerguei ali, naqueles dois seres humanos sendo empurrados em seus carrinhos/cadeiras, uma semelhança que tem mais sentimento do que graça. Há apenas uma diferença: a indiferença!

Explico: os bebês nascem e precisam de cuidados essenciais nos seus primeiros anos de vida. Como não falam seus choros e esperneios precisam ser interpretados, traduzidos, compreendidos e respondidos de imediato. Os bebês precisam ser alimentados por terceiros, recebem banho, carinho, atenção, conforto, cuidados com sua saúde. Quando se envelhece, esses mesmos gestos que deveriam também ser essenciais aos idosos, são simplesmente desprezados. Muitas vezes não se consegue envelhecer com saúde e boa parte dos idosos precisam de atenção, banho, alimentação por terceiros, carinho e conforto. Mas na maioria dos casos, não é isso que vemos. O que vemos é descaso, desrespeito, descuido, desatenção... tudo que decorre da tal indiferença da qual falei acima. E, muito diferente da piadinha de mal gosto, a situação não tem graça nenhuma.

O Brasil, por causa da melhor da qualidade de vida das pessoas, está se tornando um país de idosos. As pessoas estão vivendo mais tempo. E me preocupa saber que essa população - os idosos - são os que menos recebem atenção de todos - do governo aos familiares. Poder estacionar em vaga especial, andar de ônibus sem pagar, poder cortar a fila e ter prioridade em caixas de banco e supermercados, são apenas obrigatoriedades que são estendidas aos mais velhos. O que realmente importa, eles não tem. Cade o atendimento de saúde com qualidade? Cadê a aposentadoria digna pelo tempo que essas pessoas trabalharam? Cade a gentileza, a ajuda, a solidariedade e a educação com esses que tem, só de sabedoria, o tempo que temos de vida? Isso falta, e muito!

Se somos tão iguais ao nascermos e morrermos, será que merecemos o desprezo ao cumprir uma missão tão difícil e complexa que é completar a vida? Se valorizarmos mais os idosos, a graça não estará mais na piada contada no início deste artigo e sim na compreensão de que, ao chegar ao fim da vida, precisaremos da mesma atenção de quando chegamos a ela.

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quarta-feira, 23 de março de 2011

Vida sofrida nas ruas de Sampa

Meu dono é um cara bacana. Me dá banho a cada semana, mesmo que eu não esteja coberto de poeira ou lama de alguma rua esburacada. Estou sempre perfumado por dentro e ai de quem se atreva a colocar os pés em mim em partes que não deveriam. E sei que isso acontece com frequência com gente que não tem o mínimo de respeito por nós.

Outro dia mesmo, ouvi no meu sistema de som, um jornalista babaca dizendo que colocou o pé no console de um taxi e o taxista, gentilmente, pediu que ele o tirasse. E não é que o passageiro achou aquilo um absurdo? Disse que carro é pra isso mesmo, pra ser gasto, usado, abusado porque é um bem material e, por isso, estragou troca-se por outro. Peraí, não é bem assim não! Problema desse babaca se ele não tem o mínimo de consideração por nós carros. Afinal se não fosse pela gente, esse povinho que nos despreza não chegaria a lugar nenhum. Sejamos nós grandes, pequenos, simples ou luxuosos, sempre carregamos vocês pra onde quer que seja, oras!

Falando em desprezo, outra que não dá a mínima pra nossa integridade é a prefeitura de São Paulo. Nossa, diariamente canso de enfiar os pezinhos num buracão qualquer. E como dói essa porrada, viu! Olha que meu dono é super atencioso e desvia da maioria dos buracos que consegue. Mas é tanta cratera que, às vezes, fica difícil escapar de alguma. É uma vergonha ver uma cidade que tem tanto serviço eficiente, com as ruas num estado tão lastimável quanto esse. Buracos, calombos, sujeira... tem de tudo por onde a gente passa. Dá até nojo de sair da garagem.

Mas sabe o que eu mais odeio nas ruas de São Paulo? Motoristas mal-educados! Tem gente que vira monstro quando assume o volante da gente. É um tal de te dar um “chega pra lá”, um “sai da frente” que vou te contar viu. E a gritaria de buzinas nas minhas janelas? Pô, precisa esse berreiro todo? O sinal mal abriu, o carinha de trás enfia a mão na buzina. Você dá uma mudadinha de faixa, mesmo dando seta, lá vem outra buzinada. Se fechar sem querer então, é berreiro longo! Outro dia mesmo meu dono estava seguindo por uma rua quando, sem mais nem menos uma madame desvairada lhe cortou a frente para entrar à esquerda.

Meu dono quase bateu! E não é que a vaca (desculpe!) ainda meteu a mão na buzina e xingou, como se estivesse certa? Não deu pra acreditar!

É, andar pelas ruas de São Paulo, é uma missão quase impossível. Mas ainda bem que meu dono cuida bem de mim. Senão eu já teria ido prum ferro velho faz tempo. Tudo bem que ele me troca de vez em quando, mas faz parte da vida. Só espero que na próxima troca meu dono não seja um animal no trânsito como muitos por aí!

Assinado, o atual carro deste blogueiro.

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