segunda-feira, 19 de julho de 2010

A mais incrível odisséia rumo à vida!


Assisti recentemente a um documentário sobre fecundação e fiquei realmente assustado (no bom sentido. Bom sentido?). Como eu e minha mulher estamos passando por esse momento – injeções para ovulação, medicamentos para fortificar o esperma, hora certa pra ter relações, etc – o documentário me deixou com uma certeza: é difícil pra cacete (sem nenhum trocadilho) ter filhos!

Para ser ainda mais realista e dar dimensões da odisséia vivida pelos espermatozóides até o óvulo, o documentário aumentou a escala de proporções. Mostrou todo esse trajeto como se um espermatozóide tivesse o tamanho de uma pessoa. Aí é que vem os assombros!

Um homem normal consegue produzir, a cada ejaculação, cerca de 300 milhões de espermatozóides. Imagine todos eles dentro de um dos nossos testículos – ele precisaria ter o tamanho de um prédio oval de UM QUILÔMETRO DE DIÂMETRO. Bom, temos dois prédios desses lá embaixo.

Na hora de sair, ou seja, no momento da ejaculação, eles teriam de percorrer uma estreita tubulação em nossos testículos que, em escala aumentada, teriam cerca de 300 QUILOMETROS. É como se fizéssemos uma viagem a pé até Ribeirão Preto em pouco mais de 5 SEGUNDOS. Nem o super homem consegue isso!

Já dentro da mulher, aí é que começam os maiores desafios. Os espermatozóides tem de nadar cerca de UM QUILÔMETRO E MEIO contra uma forte correnteza no canal vaginal (3 cm em escala real), para ter acesso ao útero. Devido a sua posição, será necessário subir uma escada de QUASE 2 QUILÔMETROS de altura. Vencida essa barreira (que parece muito fácil, né?) os bichinhos entram num emaranhado de labirintos e corredores, muitos sem saída, que vão ficando cada vez mais estreitos, prensando e matando milhares deles pelo caminho. Os que conseguem vencer essa etapa – uns cerca de 60 mil apenas – chegam ao útero (DO TAMANHO DE UM CAMPO DE TRES MILHÕES DE METROS QUADRADOS) para uma batalha vital. É ali que o bicho pega: eles serão obrigados a vencer a acidez do ambiente, capaz de exterminar os mais fracos, e escapar de verdadeiros assassinos do corpo das mulheres. Imagine um exército de milhares e milhares de guerreiros sanguinários que partem pra cima dos espermatozóides como se fossem carniceiros sedentos. Esses assassinos, chamados LEUCÓCITOS, exterminam outros milhares de espermatozóides como defesa natural do corpo feminino. Mas defesa contra os coitadinhos que querem apenas fecundar um óvulo? Que injustiça!

Bom, os que escapam dessa carnificina – pouco mais de 3 mil a essa altura do campeonato – conseguem chegar ao paraíso. É isso mesmo O PARAÍSO chamado TROMPAS DE FALÓPIO! É ali que eles podem passar até 3 dias num ambiente ideal para se recuperarem, se alimentarem de nutrientes e recobrar as forças para continuar a viagem. E é ali que também vão receber um sinal de que o óvulo vai aparecer. Porque ele simplesmente PODE NÃO APARECER! Se eles chegarem muito antes da hora, morrem. Se chegarem muito depois, também vão morrer por não terem o que fecundar porque o óvulo sobrevive apenas 24 horas. Que sacanagem!

Ao deixar esse oásis de descanso, os espermatozóides enfrentam um verdadeiro maremoto – serão obrigados a nadar QUASE DOIS QUILÔMETROS, em meio a uma turbulência de líquidos que, com certeza, matarão outros milhares. Seria como nadar contra a correnteza de um tsunami como o que arrasou a Indonésia em 2006. Se estiverem na hora certa, sem atrasos ou adiantos, poderão visualizar o óvulo à sua frente do tamanho de UM PRÉDIO DE DEZ ANDARES.

A essa altura, serão pouco mais de vinte sobreviventes dos quais apenas um espermatozóide (ou na melhor das hipóteses, dois) vai conseguir fecundá-lo. E o pior: para conseguir isso SUA CABEÇA TERÁ DE EXPLODIR para que as enzimas contendo as informações genéticas masculinas possam ser absorvidas pelo óvulo. Desde a ejaculação até este momento serão cerca de 80 horas de uma viagem que mais parece suicida do que um passeio de fim de semana.

Depois de tudo isso, fiquei pensando: “caramba, o carinha vencedor é mesmo FODÃO (sem trocadilho novamente). E ainda perde a cabeça depois de tudo isso!”. Será que vem daí a expressão “perder a cabeça por uma boa transa?”

Deixando as brincadeiras de lado, estou rezando para que eu consiga produzir bons “tri-atletas” porque não existe troféu melhor para esta odisséia do que ver uma barriguinha crescendo com alguém dentro. E ainda bem que o meu trabalho é menos cansativo... dura só alguns minutos. Mas muito prazeroso! UFA!

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domingo, 11 de julho de 2010

O verdadeiro motivo está enterrado!


Acabei de voltar de Minas Gerais onde fui produzir matérias sobre o assassinato de Eliza Samudio. O que colhi ali estarrece -um crime arquitetado, segundo a polícia, por uma celebridade no auge da fama, com salário de duzentos mil reais por mês e uma bela carreira pela frente. Depois de cobrir tantos casos policiais escabrosos, ainda me pergunto porque alguns são cometidos com tanta crueldade. Até entendo que se queira matar alguém para se resolver um problema - isso é coisa de psicopata, distúrbio mental, surto, sei lá. Mas usar de determinados artifícios, como no caso de Eliza, não me faz ter qualquer compreensão.

Os fatos foram narrados pela polícia: Eliza levou coronhadas, foi espancada, teve o corpo esquartejado e dessossado. As partes foram dadas para cães devorarem. Ainda queriam fazer o mesmo com a criança - por proteção de Deus, escapou ilesa.

Será que podemos culpar a trajetória da família de ambos? O pai de Eliza foi condenado pelo estupro de uma menina de 10 anos de idade. A mãe a teria abandonado aos cinco anos de idade e já teria tentado cometer suicídio. A mãe de Bruno, foi acusada, no passado, de tentativa de homicídio ao descarregar um revólver para tentar matar outra mulher. E também o abandonou quando ainda criança. O pai, já falecido, também tinha passagens pela cadeia por furtos. Por fim, Eliza era uma atriz de filmes pornográficos que tinha em sua lista de "casos" um número de jogadores suficiente para formar um time inteiro de futebol, com reservas. Seriam todos esses fatores determinantes para a brutalidade com a qual o crime foi cometido? Acho que não. Se fosse assim, teríamos milhoes de assassinos soltos em cada esquina desse país. Jamais se poderá atribuir a essa relação familiar desastrosa a justificativa para o que aconteceu.

Quantas e quantas vezes já vimos jovens humildes, saídos das favelas brasileiras, ganharem fama e dinheiro rapidamente? Não falemos em notoriedade. Pagodeiros, sertanejos e jogadores de futebol estão em maioria entre eles. Mas não quero fazer discriminações, estou apenas citando uma estatística comprovada. E quantos deles já não vimos envolvidos em escândalos? Só posso atribuir isso ao enriquecimento rápido demais e a mudança brutal de realidade sem que se tenha estrutura emocional para suportar isso. Mas é uma situação difícil de explicar, pelo menos por mim que não sou nenhum especialista em comportamento humano. Mas posso arriscar que a combinação explosiva de fama, riqueza, baladas, drogas, amizades com traficantes, orgias e nenhuma responsabilidade, podem detonar várias situações criminosas. E pelo que parece, essa era a vida que Bruno levava.

Mas ao mesmo tempo me pergunto porque homens célebres, ricos e bem formados também são capazes de produzir crimes hediondos? Lembram do jornalista Pimenta Neves que assassinou a namorada a sangue frio? Lembram do promotor Igor que assassinou a mulher? Lembram do dentista que esquartejou uma pessoa e escondeu o corpo numa mala? Que relação estes homens ricos e bem formados teriam com o goleiro Bruno, pobre que enriqueceu e "venceu na vida" de repente? Coisas da natureza humana que estudioso nenhum deveria se atrever a explicar.

O que imagino é que o simples fato de Bruno ter tido um filho com Eliza e uma suposta cobrança de pensão, não foram, com certeza, os únicos motivos dessa crueldade. Se fossem, seria fácil serem resolvidos por alguém que ganhava 200 mil por mês - 20 mil não iriam lhe fazer falta. Uma coisa é certa: os segredos que Eliza guardava com ela agora estão enterrados junto com seus restos mortais, não se sabe onde. E para Bruno e seus comparsas, talvez tenha valido a pena passar o tempo que vão passar na cadeia em troca de que esses segredos não venham à tona.

Infelizmente, para a polícia e a justiça, muitas vezes, só interessa comprovar a autoria do crime e não os detalhes que o motivaram. Se fosse o contrário muita sujeira mais, quem sabe, também poderia ser revelada.

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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Perdemos a Copa. E daí?

Perdemos a copa! Eu confesso que, desde o primeiro jogo, já não apostava nem na chegada às quartas de finais. Porque? A convocação foi muito pessoal. Dunga não quis ouvir ninguém, contrariou milhões de brasileiros que queriam outras estrelas no time, fechou os treinos, cercou os jogadores de segurança excessiva. Nunca a seleção foi tão protegida. Além disso, seu mau-humor deixou claro a falta de positivismo do técnico. Quem é otimista e confiante não demonstra as diversas reações que ele exibiu diante das câmeras. A energia da seleção não estava boa.

Assim, perdemos a chance de chegar lá. Mas e daí? Chega de falar nisso, já foi, acabou. O Brasil precisa agora de otimismo, de tocar a vida em frente. Copa temos de quatro em quatro anos, quem sabe em 2014 a gente chega mais perto do hexa. Chega de parar o país por causa de um jogo de futebol. Na semana passada, tivemos apenas três dias úteis - a segunda e a sexta ficaram por conta das comemorações (as de segunda) e lamentações (as de sexta). Enquanto isso, coisas importantes foram deixadas para trás.

Quase ninguém lembrou que na sexta o impostômetro de São Paulo mostrou que já pagamos esse ano cerca de 600 bilhões de reais em impostos. Ninguém também, a não ser a família, se perguntou o que a polícia fez na sexta para buscar novas provas sobre o assassinato de Mércia Nakashina. Alguém sabe por acaso quantas pessoas ficaram sem atendimento médico nos pronto-socorros, hospitais e postos de saúde durante os dias de jogo da seleção? Na sexta mesmo fiquei sabendo que dezenas, centenas, milhares de pessoas encerraram seus expedientes depois das 13 horas, ou seja, depois do jogo, lamentando a derrota para a Holanda.

Acho que existem coisas mais importantes do que uma copa de futebol perdida. Há mais coisas a se comemorar que mais um título mundial. Como por exemplo o título que uma pequena cidade do interior de São Paulo recebeu em educação. Cresci em Cajuru, a 300 km da capital. Gente hospitaleira e amiga, todos se conhecem. Ainda tenho raízes e amigos por lá e uma vez por mês passo por ali para ir a fazenda de uma tia que mora na cidade. Cajuru parece que parou no tempo. Ainda mantém antigas construções, hoje restauradas, que abrigam lojas, farmácias, bares e outros comércios. Cajuru parece, mas não parou no tempo. A cidade foi eleita a primeira do país no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Cinco escolas da cidade estão entre as dez melhores do país. Isso sim é motivo para comemoração. Não é o Rio, não é São Paulo, não é Florianópolis - é uma cidade com pouco mais de 25 mil habitantes e orçamento em torno de 34 milhões de reais por ano. Só que o município aplicou quase a metade disso (12 milhões) na rede pública de ensino. Isso porque, por lei, obriga-se a aplicação de 25%. O prefeito achou pouco e investiu mais. O resultado é bem mais significativo que ter mais uma taça de copa do mundo na prateleira. E custou bem menos que a participação da nossa seleção na África.

Essa notícia me faz ter orgulho de ser um cajuruense de coração. E digo mais: estudei em duas de suas escolas públicas, as únicas que exitiam na época na cidade, e essa base educacional me permitiu chegar onde estou hoje.

Precisamos mudar nossos valores. A sensação efêmera de ganharmos um campeonato mundial de futebol precisa ser suplantado pela emoção e importância de termos no país cidades como Cajuru que torce por algo mais valioso que um jogo de futebol.

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