terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ecologicamente correto ou comercialmente incorreto?

Estou em São Paulo a trabalho. Minha primeira missão foi cobrir o início da inspeção veicular que pretende diminuir a poluição na cidade. Medida pretensiosa, claro. Impossível não, apenas pretensiosa. Isso porque começou errado. Os primeiros carros a serem inspecionados são os mais novos - de 2003 pra cá, evidentemente os que poluem menos que as cacalheiras velhas que circulam por ai. Porque não começar com eles, aqueles que já estão batendo biela e soltam mais fumaça que chaminé de carvoaria? Ta vendo a incoerência? De que adianta fazer inspeção primeiro nos carros mais novos enquanto os calhambeques vão continuar poluindo a cidade ainda mais? A resposta da prefeitura foi, no mínimo, esfarrapada. "Como os carros mais antigos são em maior volume, temos receio de que a reprovação da maioria, logo de cara, venha provocar uma revolta entre os motoristas e isso jogue o plano por água abaixo", foi a justificativa. Peraí! Imagina o seguinte: "vamos começar a prender todos os bandidos do país. Mas vamos começar pelos ladrões de galinha. Os piores, mais sanguinolentos, mais inescrupulosos e mais aterradores nós pegamos depois". Não soa do mesmo jeito?

Todos sabem que São Paulo é famosa pela poluição e pelo trânsito caótico e que precisa-se, urgentemente, dar um jeito nas duas coisas. O trânsito é mais complicado. A poluição é mais fácil, mas vai dar trabalho. Todo mundo sabe que qualquer carro, depois de 3, 4 anos de uso, começa a soltar mais fumaça que quando novo. Espera-se que até 2010 todos os carros já estejam inspecionados e que a poluição diminua cerca de 35%. Mas será que ninguém pensou que a cada ano os carros ficam mais velhos e aquele que passou na inspeção agora, pode não passar daqui a dois anos?

Fazendo as contas, a poluição vai cair 35% e vai se manter assim pra sempre porque os carros vão ficando mais velhos e mais poluentes. Ou será que quem criou o programa imagina que em poucos anos (uns 20?) todos vão estar rodando com energia elétrica ou água no tanque? A gente pensou isso no início dos anos 80 e até hoje vemos uns Passat 79 e umas "Variante" (sic) rodando por aí tranquilamente, no auge dos seus 30 anos de existência.

Agora vem a parte boa. Cada motorista vai pagar 72 reais pela inspeção. Se em São Paulo são 6,3 milhões de carros a serem vistoriados, façam as contas - R$ 453.600.000,00 será o faturamento da empresa contratada para fazer as vistorias. Isso em dois anos. Só não entendi porque demoraram 15 anos pra desengavetar o projeto - será que ninguém quis ganhar dinheiro antes ou não havia poluição na cidade? Bom também para oficinas mecânicas que vão ter mais trabalho pra colocar os "fumantes" em ordem. Tomara que tenha sido mesmo uma medida ambiental e não monetária.

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