quinta-feira, 19 de março de 2009

Uma aula de desrespeito

"Uma professora de educação física de 36 anos foi agredida a socos, mordidas e pontapés dentro da sala de aula da escola estadual Kakunosuke Hasegawa, em Itaquaquecetuba (Grande SP). O autor das agressões é um aluno de 13 anos."

Li a notícia publicada na Folha de São Paulo essa semana com tristeza. A vi justamente num momento em que amigos antigos preparam uma homenagem a uma professora da minha infância e adolescência que está se aposentando. As duas situações me emocionam. Uma negativamente. O caso da agressão à professora de Itaquaquecetuba mostra a que ponto chegou a educação no nosso país - desestruturada e desrespeitada. A própria Record mostrou em série de reportagens recentes o que passam professores, que são ameaçados e agredidos por alunos, e estudantes que sofrem as mesmas barbáries de seus mestres incapacitados. Ser professor hoje virou última alternativa, não mais uma escolha profissional - se não se consegue trabalho, vai-se dar aulas numa escola qualquer, qualquer uma que não exija diploma de mestrado, que pague pouco, que não ofereça condições de ensino nem material adequado. Qualquer uma que ofereça apostilas e livros que mostram que a América do Sul tem dois Paraguais e em que Cingapura esta grafado com "S". Depois querem que o Brasil se desenvolva. O PIB pode aumentar, o déficit cair, a renda per capita crescer... mas enquanto houver essa política do "deixa o povo burro mesmo" nossas gerações futuras jamais vai saber o que é PIB, Déficit e Renda Per Capita. E jamais vai crescer!

Quanto a segunda situação, a da homenagem a minha professora de infância, busco, entre tantas coisas boas vividas naquela época, a que melhor representaria sua participação em minha vida. É um outro mundo, diferente da situação de Itaquaquecetuba. Uma realidade separada apenas por trinta anos - muito pouco em termos de história de um país. Enquanto relembro com saudades os professores que me fizeram chegar onde cheguei hoje, mesmo aqueles considerados mais chatos, vejo alunos agredindo desrespeitosamente aqueles que poderiam levá-los a algum lugar, a ser alguma coisa. Eles nem imaginam que essa agressão pode ser a linha divisória entre o sucesso e o fracasso.

É sabido que nossos professores não são bem preparados para exercer a função, mas não merecem qualquer desrespeito. Quem absorve pra si o desejo de ensinar, mesmo que seja por falta de outra opção deve, no mínimo, receber um crédito pela ousadia de ser professor num país em que a educação não é primordial.

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