quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Rafael, nome de anjo e, agora, com as asas

Ano passado fui incumbido de ir até Campos do Jordão fazer uma matéria. Era algo meio urgente e, ainda na redaçào, fui informado de que iria de helicóptero. Por mais que já esteja acostumado a voos assim, sempre dá um frio na barriga, uma excitação, um certo tremor. Afinal, as vezes esse tipo de aeronave não parece ter a mesma segurança de um avião.

Cheguei ao heliponto da Record e encontrei o comandante Rafael pela primeira vez. Só de vê-lo, inexplicavelmente senti uma segurança tremenda. Seu semblante era calmo, carregado de uma energia boa. Seguimos apenas eu e ele num helicóptero Robinson, para apenas 4 pessoas. A equipe já tinha ido de carro na frente. Logo ao decolarmos, o fui bombardeando com perguntas sobre a aeronave - autonomia de voo, capacidade, velocidade e um monte de outras besteiras. Deixei escapar que estava um pouco nervoso com aquele voo de 1 hora, principalmente porque era um dia nublado e com um pouco e vento. Mas suas respostas e sua energia me tranquilizaram de tal forma que mal vi o tempo passar e logo estávamos em Campos do Jordão.

No almoço, na pausa da reportagem, eu e o piloto conversamos sobre amenidades da vida - familia, filhos, sonhos. E foi aí que vi brilhar nos olhos dele a paixão por voar. Estava ali, sentado diante de mim, um homem da minha idade que tinha conseguido realizar seu maior sonho que era ser piloto de helicóptero. Um homem que abriu mão de vários outros sonhos, porque chegar onde chegou exigiu esforço e muito dinheiro.

No final de janeiro quando fui incumbido de sobrevoar com o helicópetro da Record as represas da região de Atibaia, para mostrar os efeitos da inundação, eu já não tive a mesma apreensão daquele voo anterior. Eu soube que era com o comandante Rafael que iria voar e isso me tranquilizou. Aquele profissional que sabia o que estava fazendo de olhos fechados conquistou minha confiança com sua serenidade, sua experiência, seu caráter, o mesmo que conheci na mesa do restaurante em Campos do Jordão.

Ficamos cerca de duas horas no ar e ele, sempre solícito, com o cinegrafista Borracha ao seu lado, fazia todas as manobras necessárias que as imagens que eu pedia exigiam. Era uma dupla que trabalhava em sintonia e bom humor. E isso confortava qualquer passageiro que ali estivesse.

Quando fiquei sabendo do acidente e fui incumbido de relatar o ocorrido para o Jornal da Record, me bateu uma grande angústia e senso de responsabilidade. Afinal eu tinha de fazer algo a altura daquele exímio profissional que sempre teve uma responsabilidade ímpar e uma missão maravilhosa. Gostaria de ter feito mais. Mas espero que minhas preces sejam para ele de maior conforto que minha reportagem. Fique com Deus comandante Rafael! Agora não serão mais as asas de uma aeronave que o conduzirão mas sim as asas de um anjo que, como tal, você era. Voe em paz!


3 comentários

Ana Beatriz Camargo disse...

Ogg, a sua reportagem, bem como todas as outras veiculadas durante todo o dia pela Rede Record, e a homenagem prestada, ao final do JR, pelas redações Brasil e Canadá foram de uma sensibilidade imensa, lindas – verdadeiramente lindas – e humildes. No seu texto, naquele da Ana Paula e em todas as palavras sobre o Rafael e o Borracha podemos sentir a humildade de toda a equipe frente à fatalidade ocorrida; foi possível sentir através de tais palavras e dos semblantes de vocês o quão surpresos ficaram com a notícia, que ao mesmo tempo em que silencia, convida a dizer o quanto estes profissionais se monstraram exemplares em sua arte e o quão exepcionais são. O respeito e o trato com o fato dado por todas as emissoras – mas especialmente, por motivos óbvios, pela Rede Record – emanaram da tela e nos atingiram de tal forma a nos silenciar e nos fazer conseguir apenas torcer pela recuperação do cinegrafista e rezar com a nossa força mais íntima pelo piloto Rafael.

Parabéns pela forma como a Rede Record deu a notícia que nenhum jornalista quer dar. Parabéns à você por ter feito a reportagem que repórter algum quer fazer. Parabéns pelo profissionalismo em momentos tão extremos. Parabéns Ogg! Parabéns Rede Record! Loas ao saudoso Rafael Sobrinho!

Vinicius disse...

Realmente muito triste.

ROBERTO MENTHA disse...

OLA MEU BROTHER, FIQUEI MUITO CHOCADO COM O OCORRIDO, COM CERTEZA ESTARA EM BOM LUGAR, MEUS SENTIMENTOS PELA PERDA DOS AMIGOS DE TRABALHO, HJ HOUVE UMA TRAGEDIA AQUI NA SUA TERRINHA DO CORAÇÃO, VC DEVE TER VISTO NA TV,O LOCAR FICOU PARECENDO UM CAMPO DE GUERRA,
BROTHER...UM FORTE ABRAÇO DO AMIGO ROBERTINHO MENTA

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