segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Derrubando a concorrência de forma desleal

Aonde vamos chegar assim?

Já está ai mais uma medida do governo que ferra o consumidor e dá indícios de protecionismo e, porque não dizer "cartelismo", na indústria automotiva brasileira - o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos veículos importados. A desculpa é proteger a industria nacional que, coitadinha, estaria perdendo mercado com a venda crescente de carros importados. A medida, no mínimo, me parece calçada no desespero das montadoras das carroças brasileiras contra uma estratégia de gênio das chinesas, sul-coreanas e outras mais: fabricar carros com qualidade a preços mais acessíveis.

Quem não se lembra, lá pelos idos dos anos 80 e começo dos 90, quando tínhamos à nossa disposição apenas veículos da Fiat, Volkswagen, Ford e Chevrolet? A maioria dos carros não tinha ar-condicionado, câmbio automático, vidros e travas elétricos, nem alarme. Se você quisesse alguns desses ítens, teria de pagar bem mais caro por eles. Enquanto isso, em outros países, estas mesmas montadoras disponibilizavam modelos bem mais baratos, com acabamento superior e com todos esses acessórios de fábrica. E como a importação estava fora do alcance da maioria dos brasileiros, tinhamos de engolir as carroças ou enfiar a mão no bolso para ter um pouco mais de conforto.

O que aconteceu? Fernando Collor de Mello mudou esse cenário (talvez uma das únicas coisas decentes que ele fez). Permitiu a importação, mesmo que dos sofríveis carros russos (os Lada) e abriu o mercado para outras fábricas. Tudo bem que os primeiros Hyundai, por exemplo, que chegaram aqui, não eram nenhum primor de veículo, mas fez com que as empresas nacionais começassem a melhorar o que nos oferecia. Aí chegamos onde estamos hoje - temos importados com qualidade superior aos nacionais em vários aspectos, preços menores e garantias mega-estendidas. Resultado: a venda de veículos importados cresceu mais de 30% enquanto a de nacionais raspou apenas nos 2% no mesmo período.

É claro que a qualidade dos nacionais aumentou muito, temos excelentes carros que vão dos modelos populares aos mais luxuosos. Mas isso só aconteceu por causa da concorrência com os importados. Se isso mudar, corremos o risco de voltar a comprar gato por lebre.

O que o governo faz agora, atendendo ao chororô das montadoras brasileiras, me soa como mais uma das usurpações e chantagens a que já estamos acostumados. Na verdade, a medida mais imbecil e burra que temos notícias. Oras, se querem proteger a indústria nacional, faça-as produzir veículos mais competitivos e com preços mais atraentes, baixem os famigerados impostos dos veículos e deem incentivos para as fábricas produzirem mais e melhor. Quer um exemplo? O Equador consegue vender um iX35 da Hyundai por 24 mil dólares, ou cerca de 43 mil reais. Aqui o mesmo veículo não sai por menos de 90 mil - o dobro!

Aumentar de forma desleal o IPI dos importados é uma atitude suja de quem quer vencer, não pela competência, mas sim roubando no jogo.

E o pior de tudo isso é que, com essa medida, nenhum carro brasileiro vai baixar de preço. O que temo acontecer é o contrário (veja link abaixo). Imaginem só: vou pensar com a cabeça de um presidente de montadora: "Já que os importados vão subir demais (perto dos 30%), vamos aumentar os nossos em 15%, só a metade, que ainda vai ficar mais barato e a gente enche mais o bolso. Ah, e dá pro governo aquela comissãozinha pela medida contra nossos adversários!". Será que viajei demais?

Na minha opinião, o mais sensato seria livrar as empresas nacionais da carga tributária sufocante e incentivar as fábricas estrangeiras a investir na construção de unidades no país. Cada uma teria seu espaço, a concorrência voltaria a ser pelo produto de melhor qualidade e ainda teríamos milhares de novos empregos sendo criados. Inclusive já temos algumas montadoras estrangeiras que fizeram isso e se deram bem.

Mas, antes disso, o governo precisa abrir mão da sua ganância, da incansável vontade de esfolar o bolso dos brasileiros e parar de atender ao lobby de determinados setores que financiam as campanhas políticas. O dia em que isso acontecer, estaremos mesmo vivendo num país de futuro.

Em tempo: no dia seguinte à publicação deste artigo, saiu esta notícia confirmando o que eu disse acima. Veja: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/977710-montadoras-nao-descartam-aumento-no-preco-de-carros-nacionais.shtml

1 comentário

André Luis disse...

Ótimo artigo Ogg, já retuitado, vamos passar essas verdades para a frente.

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