Como eu disse na primeira parte do diário de viagem ao Equador, encerramos o primeiro dia num sufoco danado. Foi muita tensão e correria para colocarmos no ar as primeiras informações do dia seguinte ao da rebelião. A internet da lan-house do aeroporto era mais lenta que uma lesma sem pressa de chegar e conseguimos gerar imagens, passagen e entrevista poucos minutos antes da matéria ir ao ar. Mas deu tudo certo.
Ainda exaustos por essa tensão e pela expectativa da viagem, deixamos o Aeroporto Mariscal Sucre, em Quito, e pegamos um taxi para o centro da cidade, por volta das oito da noite. Perguntei ao motorista como estava a situação na cidade. Ele me disse que ainda havia muita insegurança em algumas regiões, que o Palácio do Governo estava cercado por soldados do exército e que não seria um bom momento para ir até lá. Enquanto isso em Guayaquil alguns saques ainda eram registrados pela cidade.
Começamos a rodar pela cidade e pude observar vários carros cheios de soldados circulando. Com fuzis em punho como que preparados para a guerra, eles miravam qualquer pessoa ou grupo suspeito e por um momento, fomos alvos enquanto passávamos ao lado do caminhão. Senti pelo menos umas 10 metralhadoras apontando para nosso taxi. Por sorte era apenas uma precaução. Não nos pararam.
Pedi para o taxista nos levar a um lugar de bastante movimento, para mostrar se as pessoas estavam obedecendo a um certo "toque de recolher" estabelecido pela situação. Me surpreendi quando vi um clima mais de festa do que de preocupação. Na "Plaza Foch", região central da cidade, onde existe uma centena de bares e restaurantes - parecida com a nossa Vila Madalena - milhares de pessoas perambulavam pelas ruas como se nada tivesse acontecido naquela quinta-feira anterior. Conversei com algumas pessoas e percebi que elas se sentiam seguras pela presença dos militares nas ruas. Alguns até se misturavam aos baladeiros de plantão.
Naquele momento percebi o que estava acontecendo: a presença do exército nas ruas, ao contrário de outros países, como aqui por exemplo, cuja situação assusta, garantiu à população equatoriana um certo ar de "tudo sob controle". Aquela festa toda me pareceu uma "comemoração" e senti nos dias seguintes a força do apoio popular ao Presidente Corrêa.
Passei pela praça onde ocorreram as primeiras confusões e segui para o hospital onde soldados da polícia militar enfrentaram o exército a tiros. Ali ainda pude ver pelo chão algumas cápsulas de fuzil deflagradas e manchas de sangue dos feridos. Até pude imaginar a correria que só fui ver mesmo, depois, pela televisão estatal local que fez questão de repetir exaustivamente as cenas do "resgate" de Correa. Resgate? Sequestro? Golpe de Estado? O que teria sido mesmo verdade nessa história toda? Assunto para o próximo post. Boa semana a todos.
sábado, 9 de outubro de 2010
Equador - Diário de Viagem, parte 2
Assinar:
Postar comentários (Atom)
1 comentário
Daria um grande documentário, não somente este conflito que apesar da gravidade não durou tanto tempo. Mas todos os ocorridos nos últimos anos nas Américas "portuguesa e espanhola". E como sempre com a massiva participação de militares de armas em punho ou utilizando-se dos seus serviços de inteligência. Mas será que as ditaduras são mesmo só militares nestes territórios???