Era o final da tarde de uma quinta feira. Eu seguia para o comício do presidente Lula em São Bernardo do Campo quando recebi uma chamada no rádio. "Ogg, ao invés de cobrir as eleições aqui, que tal acompanhar uma confuzaozinha no Equador?" Caraca! Eu que nunca tinha visitado o país agora tinha uma oportunidade de cobrir uma revolução lá! VAMBORA!
Voltei pra emissora, peguei verba de viagem, vouchers de passagens e hotel e fui pra casa arrumar as malas. O vôo partia no dia seguinte, sexta, as oito da manhã. Cacei meu passaporte que estava jogado em alguma gaveta, arrumei as malas e fui pra internet pesquisar sobre a confusão. Aí é que me dei conta do que estava indo fazer.
Naquele dia, polícia militar tinha entrado em confronto com o exército. Tiroteio, bombas, presidente sequestrado no hospital cercado, pessoas feridas, mortos, aeroporto fechado e a iminência de um golpe de estado. Putz, não ia ser fácil, pensei. Confesso que nunca tinha feito uma cobertura de guerra - o máximo que cheguei perto disso foi num confronto entre estudantes e policiais na USP, ano passado (e que já não foi mole) - e isso me deixou um pouco apreensivo. Primeiro porque não sabia que situação iríamos encontrar por lá. Se o aeroporto estava fechado, como iríamos desembarcar? Será que ficaríamos sitiados? Por um momento me imaginei me arrastando pelas ruas junto com meu cinegrafista, Gilson Dias, tentando escapar de bombas e de balas perdidas. Exagero meu? Não! Foram dez mortos e dezenas de feridos, inclusive jornalistas atacados pelos policiais rebelados.
Quase não dormi de noite de tanta excitação. Acordei as cinco, fui pra TV e não havia carro pra nos levar pro aeroporto de Cumbica - é, a redação esqueceu de providenciar. Corre daqui e dali, conseguimos uma viatura do SP Record pra nos levar, já com atraso de quase uma hora. Bom, graças a Deus, chegamos ao check-in e embarcamos ainda com um tempinho de dar uma zapeada pelo free-shopping.
Nosso roteiro incluía uma conexão em Bogotá, na Colômbia. Seriam quase seis horas de vôo até lá num apertado espaço de poltrona (eu não consegui a fila de emergência como sempre peço). Chegamos por volta do meio dia e tive de atrasar o relógio duas horas por causa da diferença de fuso-horário. Uma horinha e meia até o embarque da conexão para Quito, vamos lá zapear outro Duty-Free.
O corpo já exausto do primeiro trecho pedia arrego, afinal não foi um voo tranquilo. Enfrentamos muita turbulência a ponto de enxergar a bandeijinha de comida flutuar na minha frente em determinados momentos. Pra piorar o "sobe-e-desce" da turbulência, uma mulher gritava apavorada "Caerá ... Dios mío! Caerá!". O frango com pimentão não cai bem nessa hora.
Embarcamos em Bogotá para mais um trechinho de uma hora até Quito. Mas antes tratei de ver pela internet qual a situação. Pelo menos o aeroporto já tinha sido reaberto, o que nos tranquilizou um pouco, afinal não sabíamos se iríamos conseguir pousar. Atrasos daqui e dali, mais turbulência no voo, chegamos à capital equatoriana as quatro da tarde, já com o dead-line estourado para gravar uma passagem no aeroporto mesmo, off, sonoras, transcodificar e gerar o material pela internet. Lembrando que aqui já eram seis da tarde e o Jornal da Record entraria dalí menos de duas horas.
Foi um sufoco mas conseguimos tudo a tempo. Geramos o material faltando menos de meia hora pra matéria ir ao ar. Dado o "OK" pela chefia, respiramos aliviados, certo? Que nada! Ainda teríamos de produzir a matéria para o Fala Brasil do dia seguinte. Fomos para a batalha, ver como a cidade estava e o que enfrentaríamos. Mas esse é o assunto para o próximo a parte 2 de "Equador - Diário de Viagem" que vou publicar até sábado. Até lá!
Nando Motta e o tempo que resta a Bolsonaro
Há uma hora
2 comentários
Uou! Mal posso esperar pela continuação...
E você achando que o salve-se quem puder seria em São Bernardo, hã?! Mal sabia o pobre Ogg que aquilo seria fichinha perto de uma Equador.
Mas esse Gilson Dias, hein?! Da calmaria do Butão p/ a confusão do Equador. Esse trabalha! Rsrs.
Poste a continuação da cobertura, hein?!
Beijos.
Aguardo ansiosamente a segunda parte da história. Esta América Latina de tantos conflitos e sangue derramado. Mudam os chefes de Estado, mas o pensamento é sempre o mesmo: revolta, ódio, luta pelo poder a qualquer preço. Isso deve ter relação com o processo de formação populacional desta parte do nosso maltratado planeta Terra...