Estamos acostumados a dizer que nada nesse país funciona, quando a questão é serviço público. E podemos afirmar que isso corresponde à realidade em 90% dos casos. Em minha opinião, uma das poucas coisas que funcionam é o poder judiciário – afinal nunca vi tamanha rapidez – quando nós, cidadãos, somos cobrados por compromissos que deixamos de pagar ou por impostos que sonegamos. Agora quando nós somos autores de ações e não réus, a coisa é um pouco mais demorada. Mesmo assim funciona.
Mas tirando os tropeços da justiça, daqui e dali, percebemos que o setor é mais confiável que qualquer outro do poder público. Pelo menos, de longe, mais confiável que o legislativo. E afirmo isso também porque já me deparei, em certas ocasiões, com magistrados sérios e competentes que fazem da sua função mais que um cargo público. Estes podem ser considerados verdadeiros defensores da cidadania.
Recentemente tive a felicidade de constatar que quando há profissionais sérios trabalhando acima do seu poder, de suas salas imponentes e suas togas lustrosas, a justiça passa a ter outro valor. Meu exemplo tem o nome de RENATA MARTINS DE CARVALHO ALVES, juíza de São Luiz do Paraitinga, cidade assolada na virada do ano pela pior enchente que os moradores já viram. Senti um frio na barriga quando estive lá e vi a marca da água do Rio Paraitinga a sete metros de altura, na parede de prédios e casas do centro histórico. O Fórum também ficou sob as águas e os mais de 2.000 processos que tramitavam ali foram destruídos pela lama.
(Reportagem exibida no Jornal da Record)
Hoje, quase quatro meses depois da tragédia, 90% deles estão praticamente recuperados. Isso porque a Dra Renata decidiu, literalmente, botar a mão na lama. Com a ajuda dos funcionários do Fórum, conseguiu resgatar da inundação os milhares de volumes para dar continuidade às ações correntes. Fez o inverso da maioria dos funcionários públicos mais graduados que, nessa situação, cruzariam os braços e deixariam a responsabilidade para o Estado. Além disso, não deixou que o trabalho no Fórum parasse por um dia sequer, mesmo sem ter salas para realizar audiências, hoje feitas no pátio externo do local.
Doutora Renata é um exemplo de cidadã que não se importa com o estatus que possui e conseguiu devolver ao povo de São Luiz do Paraitinga um pouco do muito que eles perderam na enchente – sua história, sua identidade e sua identificação – já que documentos levados pela inundação já podem ser conseguidos de novo. Que falta que gente assim faz nesse país.
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