Ele é uma mão na roda em qualquer lugar e horário. Não precisamos de dinheiro de verdade, de notas de reais, mas se o temos em mãos, quase tudo está resolvido. Estou falando dos cartões de crédito ou débito. Mas uma pesquisa que vi recentemente numa revista me despertou para um fato que jamais tinha prestado atenção: nossos cartões podem dizer quem realmente somos, nossos costumes, rotinas e atitudes.
Pode, por exemplo, dizer a periodicidade com que cortamos o cabelo ou comemos comida japonesa, que bairro freqüentamos mais, em que farmácias costumamos comprar remédios e até o tipo de doença que podemos ter. Já pensou nisso, que está tudo ali naqueles simples papeizinhos que pegamos como comprovantes de pagamento? Afinal ali estão o endereço do estabelecimento, o tipo de produto ou serviço, a data, a hora, o valor, enfim, tudo sobre a compra.
Esses dados são um verdadeiro tesouro nas mãos dos bancos e administradoras de cartão que podem identificar com precisão seu perfil. Hoje, essas instituições até possuem softwares específicos para decifrar essas informações e até aumentar ou diminuir o limite de compras do usuário. Segundo a pesquisa, as grandes empresas podem até prever que uma pessoa terá problemas em pagar suas faturas a partir de uma mudança de comportamento nas compras. Diz o estudo que alguém, nos Estados Unidos, que usou o cartão recentemente para pagar massagistas, terapeutas ou foi a determinados bares, tem grande propensão a se tornar inadimplente. Só não se explica porque. Ou até mesmo que uma pessoa está para se divorciar pelo tipo de roupas que passou a comprar e pelo descontrole nos gastos. Que loucura isso!
É o preço que pagamos pela comodidade de usar o chamado “dinheiro de plástico”. Eu mesmo confesso que quase não carrego mais notas de reais em minha carteira, tamanha a facilidade de usar o cartão. Taxis, bancas de frutas, postos de combustíveis, restaurantes, estacionamentos e até camelôs - é uma infinidade de lugares onde podemos usá-los. É mais difícil saber onde eles não são aceitos. Já ouvi dizer que até garotas de programa carregam consigo uma maquininha pra receber “a conta”.
Outros detalhes sobre você que podem ser revelados pelos cartões: compra em lojas populares, pouco poder aquisitivo ou qgosta de aproveitar promoções. Gastou com flores e presentes ultimamente ou está de namorada(o) nova(o) ou alguém próximo fez aniversário. Comprou pães numa determinada padaria, significa que mora por ali. Gasta muito com produtos de higiene pessoal e cosméticos, é uma pessoa vaidosa. Vai frequentemente ao motel em horários da tarde, pode estar traindo a esposa ou o marido. Viu como é fácil identificar quem você é e o que você faz somente através dos seus hábitos com o cartão?
Só nos resta saber o quanto isso é prejudicial à nossa privacidade. Agora, se você se surpreendeu com o que eu disse aqui mas tem contas no Facebook, Orkut e fala tudo o que faz no Twitter, tipo “vou almoçar, saindo pra faculdade, to indo dormir, comi uma bela pizza ontem ou fui ao cinema ver tal filme”, não ache ruim usar cartões. Afinal a tecnologia veio para isso mesmo: facilitar a nossa vida, mas ao mesmo tempo dizer às empresas e governo quanto ganhamos e o que fazemos com o nosso dinheiro. Será que estamos reféns disso e não sabemos? É bom pensar a respeito!
2 comentários
Ogg Ibrahim, como sempre um grande jornalista, adorei a informação sobre os cartões que usamos com freguência. Enxergava como uma grande segurança usá-los evitando carregar dinheiro e, principalmente, passar em caixas eletrônicos para a retirada destes. Excelente este artigo, porque estamos agora avisados de que o "dinheiro de plástico" não é tão seguro como pensávamos, além de expor nossa intimidade.
Conversava com meu pai sobre isso esta semana.Ele dizia que depois do cartão a privacidade deixou de existir, ainda mais agora que têm fidelidade para tudo, e com informações cruzadas...o que tem suas vantagens e desvantagens.
Parabéns pelo artigo.
Bjo