Acabei de voltar de Minas Gerais onde fui produzir matérias sobre o assassinato de Eliza Samudio. O que colhi ali estarrece -um crime arquitetado, segundo a polícia, por uma celebridade no auge da fama, com salário de duzentos mil reais por mês e uma bela carreira pela frente. Depois de cobrir tantos casos policiais escabrosos, ainda me pergunto porque alguns são cometidos com tanta crueldade. Até entendo que se queira matar alguém para se resolver um problema - isso é coisa de psicopata, distúrbio mental, surto, sei lá. Mas usar de determinados artifícios, como no caso de Eliza, não me faz ter qualquer compreensão.
Os fatos foram narrados pela polícia: Eliza levou coronhadas, foi espancada, teve o corpo esquartejado e dessossado. As partes foram dadas para cães devorarem. Ainda queriam fazer o mesmo com a criança - por proteção de Deus, escapou ilesa.
Será que podemos culpar a trajetória da família de ambos? O pai de Eliza foi condenado pelo estupro de uma menina de 10 anos de idade. A mãe a teria abandonado aos cinco anos de idade e já teria tentado cometer suicídio. A mãe de Bruno, foi acusada, no passado, de tentativa de homicídio ao descarregar um revólver para tentar matar outra mulher. E também o abandonou quando ainda criança. O pai, já falecido, também tinha passagens pela cadeia por furtos. Por fim, Eliza era uma atriz de filmes pornográficos que tinha em sua lista de "casos" um número de jogadores suficiente para formar um time inteiro de futebol, com reservas. Seriam todos esses fatores determinantes para a brutalidade com a qual o crime foi cometido? Acho que não. Se fosse assim, teríamos milhoes de assassinos soltos em cada esquina desse país. Jamais se poderá atribuir a essa relação familiar desastrosa a justificativa para o que aconteceu.
Quantas e quantas vezes já vimos jovens humildes, saídos das favelas brasileiras, ganharem fama e dinheiro rapidamente? Não falemos em notoriedade. Pagodeiros, sertanejos e jogadores de futebol estão em maioria entre eles. Mas não quero fazer discriminações, estou apenas citando uma estatística comprovada. E quantos deles já não vimos envolvidos em escândalos? Só posso atribuir isso ao enriquecimento rápido demais e a mudança brutal de realidade sem que se tenha estrutura emocional para suportar isso. Mas é uma situação difícil de explicar, pelo menos por mim que não sou nenhum especialista em comportamento humano. Mas posso arriscar que a combinação explosiva de fama, riqueza, baladas, drogas, amizades com traficantes, orgias e nenhuma responsabilidade, podem detonar várias situações criminosas. E pelo que parece, essa era a vida que Bruno levava.
Mas ao mesmo tempo me pergunto porque homens célebres, ricos e bem formados também são capazes de produzir crimes hediondos? Lembram do jornalista Pimenta Neves que assassinou a namorada a sangue frio? Lembram do promotor Igor que assassinou a mulher? Lembram do dentista que esquartejou uma pessoa e escondeu o corpo numa mala? Que relação estes homens ricos e bem formados teriam com o goleiro Bruno, pobre que enriqueceu e "venceu na vida" de repente? Coisas da natureza humana que estudioso nenhum deveria se atrever a explicar.
O que imagino é que o simples fato de Bruno ter tido um filho com Eliza e uma suposta cobrança de pensão, não foram, com certeza, os únicos motivos dessa crueldade. Se fossem, seria fácil serem resolvidos por alguém que ganhava 200 mil por mês - 20 mil não iriam lhe fazer falta. Uma coisa é certa: os segredos que Eliza guardava com ela agora estão enterrados junto com seus restos mortais, não se sabe onde. E para Bruno e seus comparsas, talvez tenha valido a pena passar o tempo que vão passar na cadeia em troca de que esses segredos não venham à tona.
Infelizmente, para a polícia e a justiça, muitas vezes, só interessa comprovar a autoria do crime e não os detalhes que o motivaram. Se fosse o contrário muita sujeira mais, quem sabe, também poderia ser revelada.
1 comentário
Um bom senso espera que a perícia no notebook da vítima traga novidades, até porque a senha "Amor e Odio" deve ter um bom motivo para existir. Assim esperamos novas revelações no laudo pericial do Instituo de Criminalísitca da PCMG.
Parabéns pelo seu trabalho jornalísitico imparcial.