Entrei para o jornalismo sem nunca ter pensado em seguir essa carreira. Eu era gerente de uma livraria e tinha acabado de trancar matrícula num curso de arquitetura. Mas quando pisei num estúdio pela primeira vez, senti que aquele ali era meu lugar. O mundo das redações também sempre me encantou e quase tive um troço quando visitei o jornalismo da Globo, lá pelo fim dos anos oitenta, quando eu começava a carreira num emissora afiliada. Naquela época Willian Bonner era um garotão como eu, trajando tênis, calça jeans e camiseta surradas. Passou por mim carregando um monte de fitas U-matic (sistema de gravação usado na época) cantarolando alguma coisa. Aquele mundo era meu sonho, eu anseava fazer parte de uma grande emissora um dia. Quando vi Bonner assumir o Jornal Nacional há 13 anos, aquilo me trouxe mais esperanças ainda. Ele chegou lá e eu tinha a certeza que também poderia chegar.
Assim como qualquer pessoa faz quando está desenvolvendo sua carreira, procurei me inspirar em alguém. Não para copiar seu estilo, seu modo de fazer. É apenas uma forma de dizer pra gente mesmo "quando eu crescer quero ser que nem esse cara". Essa pessoa era Celso Freitas. Sempre admirei sua postura, sua entonação e o grave da sua voz. Gostava também de Cid Moreira, mas o achava um tanto teatral - maravilhoso, mas não o perfil que eu queria seguir. Celso era mais o meu modelo de profissional.
Havia também Marcos Hummel, igualmente profissional mas de um estilo diferente. Preciso, coeso, seguro e sem inventar caras e bocas como outros. Foi nesses dois em que eu, na casa dos meus vinte e poucos anos de idade, me espelhava sem jamais imaginar que estaria ao lado deles um dia. Passei boa parte da minha vida acompanhando suas apresentações nas emissoras pelas quais passaram.
Quando entrei para a Record em 2006, em Santa Catarina, já com quase 20 anos de jornalismo nas costas, fui contratado para ser editor chefe e apresentador de um telejornal local. Anseava algo maior, mas também não imaginava que isso viria tão rápido. Meu maior presente foi ser convocado para passar uns dias na sede da emissora, em São Paulo, quando virei repórter de rede do Jornal da Record. Foi a primeira oportunidade de estar próximo daqueles que conduziram minha inspiração profissional.
Hoje é uma dádiva e uma honra poder ocupar, ocasionalmente, o lugar desses que, de certa forma, ajudaram a me tornar o profissional que sou hoje. Quando sento na bancada do Jornal da Record, agradeço, em silêncio, ao titular daquele lugar, ao grande Celsão (como o chamo hoje com a intimidade a que me permito pela amizade). Agradeço igualmente a Deus que permitiu que eu chegasse até ali. Também agradeço pela convivência diária com Hummel e nos momentos de bate papo na redação com ele que sempre me acrescentam algo.
O que relato aqui não é "puxasaquismo" nenhum muito menos deslumbramento pelo meio em que vivo hoje, até porque já passei da idade de ter esse tipo de sentimento. Só quis expressar a importância de termos exemplos a seguir, de admirar profissionais que possam nos ensinar algo, mesmo que distantes. Hoje, fico honrado quando estudantes ou jornalistas recém-formados declaram sua admiração pelo meu trabalho. Procuro, dentro do possível, inspirá-los e mostrar-lhes a importância de termos determinação e perseverança naquilo que fazemos. É uma forma de retribuir aquilo que fizeram por mim o Celso, o Hummel e tantos outros profissionais que me inspiraram e motivaram, me incentivando a buscar o que eu sempre quis.
Aroeira e os militares no 1° de abril
Há 5 dias